* Alexandre Beeck - Historiador
Atualmente vivemos em um período marcado por intensas e profundas transformações em todos os campos. A partir do fenômeno da globalização e da revolução tecnológica desenvolvemos a idéia da existência de uma sociedade da informação e do conhecimento. Neste contexto global, percebemos que vem ocorrendo um processo de homogeneização cultural. As fronteiras econômicas estão sendo extintas e isso permite que uma determinada cultura massificadora se imponha, absorva diferenças e padronizes valores, principalmente estéticos.
Observamos de um lado os interesses dos grupos hegemônicos, que selecionam e impõe determinado padrão de cultura e de bem cultural, e, de outro diferentes segmentos sociais, de pequena influência política, que estão submetidos a tirania do mercado e da informação e, por isso mesmo, mais facilmente suscetíveis a homogeneização cultural. (MACHADO, 2002, p. 297)
A contraposição desta idéia de cultura única deve ser a valorização das identidades nacionais, regionais e locais. Neste cenário a preservação do Patrimônio Cultural se mostra fundamental, pois este é um processo que privilegia sobretudo a idéia de democratização das culturas. Assim, a manutenção da identidade é um pressuposto básico para a formação da cidadania. De acordo com Machado ( 2004 ):
Neste sentido a escola adquiriu um papel primordial, sendo o local onde os processos que devem privilegiar a formação da noção de identidade cultural se iniciam. A escola deve ser o lócus de construção de um individuo critico, atuante e responsável, ou seja, de um cidadão. Portanto é neste ambiente que deve se desenvolver a idéia de investigação e valorização da nossa cultura através da preservação do Patrimônio.
Pensamos que a formação de novos cidadãos esta ligada a forma como interpretamos o passado. Neste sentido é necessário desenvolver com uma idéia de pertencimento, mas também de reconhecimento das diferenças. Assim, podemos formar um contraponto a cultura consumista da destruição-renovação. A valorização e preservação dos bens culturais passam pelo desenvolvimento de projetos ligados a Educação Patrimonial, pois se trata de um processo sistemático de ensino que tem como foco principal o Patrimônio Cultural. Ela é um ponto fundamental com vistas a formação de um cidadão preparado para a diversidade cultural.
Percebemos que a Educação Patrimonial esta prevista nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN – 1997, para o ensino da historia. Os Parâmetros são o eixo norteador da política educacional no pais. Entretanto, na prática ainda é um tema ausente ou pouco comum no ensino básico e médio brasileiro.
Assim, este é um processo permanente e sistemático de formação educacional que coloca o patrimônio cultural como fonte primaria de conhecimento individual e coletivo, onde o ensino esta centrado nos bens culturais. Consideramos a educação patrimonial como um instrumento de “alfabetização cultural” que permite ao cidadão fazer a leitura do mundo que o rodeia e compreender a sociedade e o momento histórico no qual esta inserido. (GRUNBERG, 2001, p. 5, 6)
Percebemos que a Educação Patrimonial consiste em provocar situações de aprendizado sobre o desenvolvimento dos processos culturais que cercam a vida do aluno, sendo um instrumento de motivação para a pratica da cidadania e uma nova visão do Patrimônio Cultural.
Portanto a elaboração de diretrizes para a definição de uma política de patrimônio voltada para a educação, cuja responsabilidade deve ser efetivamente do estado, deve considerar os diferente universos como o da educação formal, o dos espaços culturais como os museus, assim como as iniciativas empreendidas pela sociedade.
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, um dos objetivos do Ensino Fundamental é que os alunos sejam capazes de compreender a cidadania como participação social e política. Entretanto esta educação para a cidadania requer que os alunos ultrapassem o ambiente escolar e percebam que estão inseridos em um contexto social mais amplo.
A educação voltada para o Patrimônio pode ser desenvolvida inclusive no inicio do processo escolar, pois os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil trazem como um dos temas de trabalho o eixo: organização dos grupos e seu modo de ser viver e trabalhar. São os momentos iniciais onde a criança começa a se perceber como sujeito histórico em uma sociedade em constante transformação. O ensino nesta fase deve superar a mera comemoração de datas cívicas, devendo ser criadas situações de explicação do mundo social, pois a partir, principalmente do convívio com a comunidade e suas manifestações culturais se inicia o processo de formação da identidade. ( CRUZ, 2006, p. 14 )
O principal objetivo do ensino de historia nas series iniciais é a formação da noção de identidade. A reflexão sobre o desenvolvimento da atuação do individuo na sociedade. Também deve construir concepções sobre fato histórico, sujeito histórico e tempo histórico. Propiciar situações pedagógicas para o desenvolvimento de noções de diferença - semelhança e continuidade-descontinuidade, observando as permanências e transformações no modo de vida social, cultura e econômico.
Os conteúdos devem enfocar as diferenças históricas que formam as relações estabelecidas entre a coletividade local e outras coletividades de outros tempos e espaços. Assim privilegia-se a história local e do cotidiano. Devemos então partir de problemáticas locais, integrando a história cotidiana da criança e do local ao contexto histórico. Já o eixo temático do segundo ciclo, terceira e quarta série é a historia das organizações populacionais. Neste momento devem ser desenvolvidos conhecimentos sobre as relações estabelecidas entre a coletividade local e outras coletividades, percebendo como diferentes grupos, em diferentes temporalidades se organizavam. (CRUZ, 2006, p. 43)
Neste contexto, ações como a saída de campo ao museu, a partir de um projeto desenvolvido previamente é fundamental para a percepção de que o objeto também é um documento histórico que deve ser explorado. Nestes locais esta expressa a criação cultural de determinados grupos. A visita a arquivos históricos com as crianças também é importante para o percebimento da importância da guarda e conservação dos documentos e futura valorização dos acervos familiares e pessoais. Porém deve-se relaciona - lá ao conteúdo desenvolvido na escola.
Entendemos que nas series iniciais o trabalho com a iconografia é fundamental, pois são alunos no inicio da alfabetização e necessitam da imagem para identificar a pluralidade cultural. Portanto a utilização de documentos manuscritos ou impressos se mostra necessária, pois através deles obtemos informações sobre aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais, sobre hábitos e valores de diferentes épocas. Possibilitar situações de aprendizagem que privilegiem a utilização dos mesmos é importante para que se evite as restrições impostas pelos livros didáticos.
Neste sentido a História Oral é essencial, pois a partir da sua metodologia poderemos reconstruir os fatos através da memória. Percebemos que a História oficial esta nos livros, nos documentos e nos discursos dos dirigentes. Entretanto ao seu lado existe uma outra visão dos acontecimentos que pode e deve ser recuperada pela História Oral.
A observação do Patrimônio Arquitetônico da cidade e de suas transformações ao longo do tempo propiciará ao aluno o entendimento de como se desenvolveu a construção histórica da localidade. Lançar o olhar sobre estes locais, inclusive a própria residência do aluno é perceber como a cultura também esta projetada nestes espaços. A partir dessa investigação podem se formar noções de conservação, revitalização e de proteção.
Observamos que os modos de saber e fazer também estão expressos nos processos produtivos da comunidade. Investigar instrumentos, técnicas, relações e espaços é traçar um quadro da evolução da historia do trabalho na localidade. As práticas culturais das localidades são expressas em praças, feiras, mercados, espaços que precisam ser valorizadas pela escola, pois neles as pessoas se reconhecem, formam um elo comum de convívio cultural.
A exploração do Patrimônio Religioso é fundamental. Entender as crenças, devoções, praticas, cerimoniais, ou seja como se desenvolve a ligação do homem com o sagrado, se torna um modo de buscarmos como o individuo vence seus desafios cotidianos. Os templos, terreiros, centros, igrejas são principalmente espaços de trocas culturais.
Neste contexto as festas e comemorações também são um elo que envolve as comunidades. Nesses momentos ela expressa sua identidade cultural. São um foco de resistência, mas onde percebemos novas praticas culturais sendo agregadas com o passar do tempo. Portanto trabalhar com ações que busquem desenvolver a noção de identidade cultural é necessária e urgente.
Buscando investigar como estão se desenvolvendo estas idéias na Região das Hortênsias, observamos que nas ruas de Gramado e Canela ainda é notável a influencia da imigração na cultura desses municípios. Com relação a arquitetura, por exemplo, observamos que pequenos prédios comerciais, residências, hotéis e pousadas possuem características únicas, o que contribuiu para que essas cidades se consolidassem no cenário turístico nacional.
Belezas naturais e um calendário de festas apropriado ao clima serrano, fazem de Gramado e Canela um pólo de atração turística, principalmente no inverno. Contudo a preservação da memória dos antepassados, estampada na arquitetura dos seus prédios públicos ou em residências antigas, tem recebido pouco apoio das administrações. Mesmo sabendo que o tema não seja apenas de responsabilidade governamental, falta articulação com a comunidade e com setores empresariais, que podem desenvolver importantes parcerias. Mas desde que haja incentivos financeiros e principalmente planejamento, que possam garantir desenvolvimento com qualidade de vida, sem descaracterizar a historia da região.
A deterioração do Patrimônio Histórico preocupa alguns setores da sociedade canelense. A inexistência de uma Lei de Tombamento vem prejudicando um trabalho efetivo na área. Em Canela são raras e específicas ações Patrimoniais. Entretanto cabe destacar o papel desempenhado pelo Centro de Memória do Trabalho de Canela, uma entidade civil que tem por objetivo proceder a guarda e preservação da documentação histórica da cidade. Foi criado pela comunidade, sem ingerência do poder publico justamente porque não havia um local adequado na cidade com esta finalidade. Instituição que vem desenvolvendo palestras, curso e eventos de sensibilização pela valorização do Patrimônio.
Enfim, percebemos que a Educação Patrimonial deve ser um processo desenvolvido permanentemente no ambiente escolar. O ensino de história, principalmente nas séries iniciais deve estar alicerçado no entendimento da construção histórica da comunidade. Pensando dessa forma poderemos despertar desde cedo nos alunos a consciência da importância da preservação.
Compreendemos também que a observação e as avaliações criteriosas sobre o Patrimônio Cultural da Região das Hortênsias, especialmente, Gramado e Canela pode contribuir para a sensibilização do poder publico e a conscientização da população acerca das constantes necessidades para promover a preservação destes bens culturais.
A manutenção do Patrimônio Cultural desses municípios é um desafio permanente. O desenvolvimento impulsionado pelo turismo, vem ofuscando a necessidade de investimentos na área. Pois privilegia-se o Turismo Comercial em detrimento do Turismo Cultural. Contudo, o desenvolvimento deste ultimo pode contribuir para o respeito ao Patrimônio A existência de lei municipal e a criação de Conselhos para preservação, em Canela, por exemplo, seriam avanços importantes para garantir um trabalho de valorização e respeito ao passado. Então percebemos que deve haver uma mudança de concepção para a preservação do Patrimônio. Um trabalho que deve passar necessariamente pela escola.
REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS.
BRASIL. Constituição ( 1988 ). 25. de. São Paulo: Saraiva, 2000.
CRUZ, Gisele Della. Fundamentos Teóricos das Ciências Humanas. Curitiba: IESDE, 2006.
FUNARI, Pedro Paulo, PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.
GRUNBERG, Evelina. Educação Patrimonial – Utilização dos bens culturais como recursos educacionais. ( on line ). Disponível em www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo4/estudos_sociais/educacao_patrimonial.pdf Acesso em 10 abril de 2008.
LUPORINI, Tereza Jussara. Educação Patrimonial: Projetos para a educação básica. .In: FACULDADE PORTO-ALEGRENSE DE EDUCACAO CIENCIAS E LETRAS. Patrimônio e Educação. Porto Alegre, 2002.
MACHADO, Maria Beatriz Pinheiro. Educação Patrimonial : Orientação para professores do ensino fundamental e médio. Caxias do Sul: Maneco Livr. & Ed, 2004.
MACHADO, Maria Beatriz Pinheiro. Caixas de memória. In: FACULDADE PORTO-ALEGRENSE DE EDUCACAO CIENCIAS E LETRAS. Patrimônio e Educação. Porto Alegre, n. 31, 2002
PIPPI, Gladis Maria. Historia Cultural das Missões : Memória e Patrimônio. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2005.
VARINE, Hugues de. Patrimônio e educação popular. In: FACULDADE PORTO-ALEGRENSE DE EDUCACAO CIENCIAS E LETRAS. Patrimônio e Educação. Porto Alegre, 2002
Observamos de um lado os interesses dos grupos hegemônicos, que selecionam e impõe determinado padrão de cultura e de bem cultural, e, de outro diferentes segmentos sociais, de pequena influência política, que estão submetidos a tirania do mercado e da informação e, por isso mesmo, mais facilmente suscetíveis a homogeneização cultural. (MACHADO, 2002, p. 297)
A contraposição desta idéia de cultura única deve ser a valorização das identidades nacionais, regionais e locais. Neste cenário a preservação do Patrimônio Cultural se mostra fundamental, pois este é um processo que privilegia sobretudo a idéia de democratização das culturas. Assim, a manutenção da identidade é um pressuposto básico para a formação da cidadania. De acordo com Machado ( 2004 ):
Neste sentido a escola adquiriu um papel primordial, sendo o local onde os processos que devem privilegiar a formação da noção de identidade cultural se iniciam. A escola deve ser o lócus de construção de um individuo critico, atuante e responsável, ou seja, de um cidadão. Portanto é neste ambiente que deve se desenvolver a idéia de investigação e valorização da nossa cultura através da preservação do Patrimônio.
Pensamos que a formação de novos cidadãos esta ligada a forma como interpretamos o passado. Neste sentido é necessário desenvolver com uma idéia de pertencimento, mas também de reconhecimento das diferenças. Assim, podemos formar um contraponto a cultura consumista da destruição-renovação. A valorização e preservação dos bens culturais passam pelo desenvolvimento de projetos ligados a Educação Patrimonial, pois se trata de um processo sistemático de ensino que tem como foco principal o Patrimônio Cultural. Ela é um ponto fundamental com vistas a formação de um cidadão preparado para a diversidade cultural.
Percebemos que a Educação Patrimonial esta prevista nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN – 1997, para o ensino da historia. Os Parâmetros são o eixo norteador da política educacional no pais. Entretanto, na prática ainda é um tema ausente ou pouco comum no ensino básico e médio brasileiro.
Assim, este é um processo permanente e sistemático de formação educacional que coloca o patrimônio cultural como fonte primaria de conhecimento individual e coletivo, onde o ensino esta centrado nos bens culturais. Consideramos a educação patrimonial como um instrumento de “alfabetização cultural” que permite ao cidadão fazer a leitura do mundo que o rodeia e compreender a sociedade e o momento histórico no qual esta inserido. (GRUNBERG, 2001, p. 5, 6)
Percebemos que a Educação Patrimonial consiste em provocar situações de aprendizado sobre o desenvolvimento dos processos culturais que cercam a vida do aluno, sendo um instrumento de motivação para a pratica da cidadania e uma nova visão do Patrimônio Cultural.
Portanto a elaboração de diretrizes para a definição de uma política de patrimônio voltada para a educação, cuja responsabilidade deve ser efetivamente do estado, deve considerar os diferente universos como o da educação formal, o dos espaços culturais como os museus, assim como as iniciativas empreendidas pela sociedade.
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, um dos objetivos do Ensino Fundamental é que os alunos sejam capazes de compreender a cidadania como participação social e política. Entretanto esta educação para a cidadania requer que os alunos ultrapassem o ambiente escolar e percebam que estão inseridos em um contexto social mais amplo.
A educação voltada para o Patrimônio pode ser desenvolvida inclusive no inicio do processo escolar, pois os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil trazem como um dos temas de trabalho o eixo: organização dos grupos e seu modo de ser viver e trabalhar. São os momentos iniciais onde a criança começa a se perceber como sujeito histórico em uma sociedade em constante transformação. O ensino nesta fase deve superar a mera comemoração de datas cívicas, devendo ser criadas situações de explicação do mundo social, pois a partir, principalmente do convívio com a comunidade e suas manifestações culturais se inicia o processo de formação da identidade. ( CRUZ, 2006, p. 14 )
O principal objetivo do ensino de historia nas series iniciais é a formação da noção de identidade. A reflexão sobre o desenvolvimento da atuação do individuo na sociedade. Também deve construir concepções sobre fato histórico, sujeito histórico e tempo histórico. Propiciar situações pedagógicas para o desenvolvimento de noções de diferença - semelhança e continuidade-descontinuidade, observando as permanências e transformações no modo de vida social, cultura e econômico.
Os conteúdos devem enfocar as diferenças históricas que formam as relações estabelecidas entre a coletividade local e outras coletividades de outros tempos e espaços. Assim privilegia-se a história local e do cotidiano. Devemos então partir de problemáticas locais, integrando a história cotidiana da criança e do local ao contexto histórico. Já o eixo temático do segundo ciclo, terceira e quarta série é a historia das organizações populacionais. Neste momento devem ser desenvolvidos conhecimentos sobre as relações estabelecidas entre a coletividade local e outras coletividades, percebendo como diferentes grupos, em diferentes temporalidades se organizavam. (CRUZ, 2006, p. 43)
Neste contexto, ações como a saída de campo ao museu, a partir de um projeto desenvolvido previamente é fundamental para a percepção de que o objeto também é um documento histórico que deve ser explorado. Nestes locais esta expressa a criação cultural de determinados grupos. A visita a arquivos históricos com as crianças também é importante para o percebimento da importância da guarda e conservação dos documentos e futura valorização dos acervos familiares e pessoais. Porém deve-se relaciona - lá ao conteúdo desenvolvido na escola.
Entendemos que nas series iniciais o trabalho com a iconografia é fundamental, pois são alunos no inicio da alfabetização e necessitam da imagem para identificar a pluralidade cultural. Portanto a utilização de documentos manuscritos ou impressos se mostra necessária, pois através deles obtemos informações sobre aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais, sobre hábitos e valores de diferentes épocas. Possibilitar situações de aprendizagem que privilegiem a utilização dos mesmos é importante para que se evite as restrições impostas pelos livros didáticos.
Neste sentido a História Oral é essencial, pois a partir da sua metodologia poderemos reconstruir os fatos através da memória. Percebemos que a História oficial esta nos livros, nos documentos e nos discursos dos dirigentes. Entretanto ao seu lado existe uma outra visão dos acontecimentos que pode e deve ser recuperada pela História Oral.
A observação do Patrimônio Arquitetônico da cidade e de suas transformações ao longo do tempo propiciará ao aluno o entendimento de como se desenvolveu a construção histórica da localidade. Lançar o olhar sobre estes locais, inclusive a própria residência do aluno é perceber como a cultura também esta projetada nestes espaços. A partir dessa investigação podem se formar noções de conservação, revitalização e de proteção.
Observamos que os modos de saber e fazer também estão expressos nos processos produtivos da comunidade. Investigar instrumentos, técnicas, relações e espaços é traçar um quadro da evolução da historia do trabalho na localidade. As práticas culturais das localidades são expressas em praças, feiras, mercados, espaços que precisam ser valorizadas pela escola, pois neles as pessoas se reconhecem, formam um elo comum de convívio cultural.
A exploração do Patrimônio Religioso é fundamental. Entender as crenças, devoções, praticas, cerimoniais, ou seja como se desenvolve a ligação do homem com o sagrado, se torna um modo de buscarmos como o individuo vence seus desafios cotidianos. Os templos, terreiros, centros, igrejas são principalmente espaços de trocas culturais.
Neste contexto as festas e comemorações também são um elo que envolve as comunidades. Nesses momentos ela expressa sua identidade cultural. São um foco de resistência, mas onde percebemos novas praticas culturais sendo agregadas com o passar do tempo. Portanto trabalhar com ações que busquem desenvolver a noção de identidade cultural é necessária e urgente.
Buscando investigar como estão se desenvolvendo estas idéias na Região das Hortênsias, observamos que nas ruas de Gramado e Canela ainda é notável a influencia da imigração na cultura desses municípios. Com relação a arquitetura, por exemplo, observamos que pequenos prédios comerciais, residências, hotéis e pousadas possuem características únicas, o que contribuiu para que essas cidades se consolidassem no cenário turístico nacional.
Belezas naturais e um calendário de festas apropriado ao clima serrano, fazem de Gramado e Canela um pólo de atração turística, principalmente no inverno. Contudo a preservação da memória dos antepassados, estampada na arquitetura dos seus prédios públicos ou em residências antigas, tem recebido pouco apoio das administrações. Mesmo sabendo que o tema não seja apenas de responsabilidade governamental, falta articulação com a comunidade e com setores empresariais, que podem desenvolver importantes parcerias. Mas desde que haja incentivos financeiros e principalmente planejamento, que possam garantir desenvolvimento com qualidade de vida, sem descaracterizar a historia da região.
A deterioração do Patrimônio Histórico preocupa alguns setores da sociedade canelense. A inexistência de uma Lei de Tombamento vem prejudicando um trabalho efetivo na área. Em Canela são raras e específicas ações Patrimoniais. Entretanto cabe destacar o papel desempenhado pelo Centro de Memória do Trabalho de Canela, uma entidade civil que tem por objetivo proceder a guarda e preservação da documentação histórica da cidade. Foi criado pela comunidade, sem ingerência do poder publico justamente porque não havia um local adequado na cidade com esta finalidade. Instituição que vem desenvolvendo palestras, curso e eventos de sensibilização pela valorização do Patrimônio.
Enfim, percebemos que a Educação Patrimonial deve ser um processo desenvolvido permanentemente no ambiente escolar. O ensino de história, principalmente nas séries iniciais deve estar alicerçado no entendimento da construção histórica da comunidade. Pensando dessa forma poderemos despertar desde cedo nos alunos a consciência da importância da preservação.
Compreendemos também que a observação e as avaliações criteriosas sobre o Patrimônio Cultural da Região das Hortênsias, especialmente, Gramado e Canela pode contribuir para a sensibilização do poder publico e a conscientização da população acerca das constantes necessidades para promover a preservação destes bens culturais.
A manutenção do Patrimônio Cultural desses municípios é um desafio permanente. O desenvolvimento impulsionado pelo turismo, vem ofuscando a necessidade de investimentos na área. Pois privilegia-se o Turismo Comercial em detrimento do Turismo Cultural. Contudo, o desenvolvimento deste ultimo pode contribuir para o respeito ao Patrimônio A existência de lei municipal e a criação de Conselhos para preservação, em Canela, por exemplo, seriam avanços importantes para garantir um trabalho de valorização e respeito ao passado. Então percebemos que deve haver uma mudança de concepção para a preservação do Patrimônio. Um trabalho que deve passar necessariamente pela escola.
REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS.
BRASIL. Constituição ( 1988 ). 25. de. São Paulo: Saraiva, 2000.
CRUZ, Gisele Della. Fundamentos Teóricos das Ciências Humanas. Curitiba: IESDE, 2006.
FUNARI, Pedro Paulo, PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.
GRUNBERG, Evelina. Educação Patrimonial – Utilização dos bens culturais como recursos educacionais. ( on line ). Disponível em www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo4/estudos_sociais/educacao_patrimonial.pdf Acesso em 10 abril de 2008.
LUPORINI, Tereza Jussara. Educação Patrimonial: Projetos para a educação básica. .In: FACULDADE PORTO-ALEGRENSE DE EDUCACAO CIENCIAS E LETRAS. Patrimônio e Educação. Porto Alegre, 2002.
MACHADO, Maria Beatriz Pinheiro. Educação Patrimonial : Orientação para professores do ensino fundamental e médio. Caxias do Sul: Maneco Livr. & Ed, 2004.
MACHADO, Maria Beatriz Pinheiro. Caixas de memória. In: FACULDADE PORTO-ALEGRENSE DE EDUCACAO CIENCIAS E LETRAS. Patrimônio e Educação. Porto Alegre, n. 31, 2002
PIPPI, Gladis Maria. Historia Cultural das Missões : Memória e Patrimônio. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2005.
VARINE, Hugues de. Patrimônio e educação popular. In: FACULDADE PORTO-ALEGRENSE DE EDUCACAO CIENCIAS E LETRAS. Patrimônio e Educação. Porto Alegre, 2002
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